quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Cortando Despesas

Eu preciso pingar minha tristeza em alguma página.
Só por segurança
Só pra ela não ficar nos cantos dos olhos
Me fazendo a manteiga que derrete sem querer derreter
E não me fazer, daqui uns anos, a tia que chora em casamentos
Aquela que se apaixona por qualquer tolo que toca um instrumento.

Eu preciso encharcar páginas e páginas com essa tristeza.
Pra não engolir
Pra que não fique doendo no estomago e trancando o nariz
E ser sempre a doente, tossindo e fumando
Exalando todo cansaço preso no corpo.

Eu quero é que os papéis se dissolvam na minha tristeza.
Pra parar com a sujeira
Pra parar de dormir em travesseiros d'água
E parar de dar trabalho na limpeza das fronhas com a maquiagem que pintei lá
Pra finalmente
Conseguir dormir sossegada.

Bon Iver Depois da Meia-Noite

Dear,
Você não sabe, mas passei os últimos cinco meses chorando por você nesse travesseiro de fronha roxa, o mesmo que agora (ainda) tem seu cheiro. Quando a chuva cai forte assim, trazendo clarões pro céu escuro da madrugada, lembro das noites sem dormir que enfrentei, e a cada gota que caia no meu telhado barulhento era como retroceder cada dia de pranto. Acho que foi ai que comecei a odiar o barulho da chuva. Parece que a chuva sempre me leva algo. Talvez, em latim a palavra "chuva" signifique algo como "perda".
Desde que eu te ganhei não choveu assim.
Acho que preciso praticar meu latim.